Archive for December 2012

Notas do Autor (Capítulo 63)

Último capítulo do ano, quem diria. 2012 foi um ano excelente para Sinnoh, posso dizer que não falhei nenhuma semana, pois quando não eram lançados capítulos eu trazia algum especial equivalente. Foram especiais que explodiram com o sucesso, muitos novos personagens, uma evolução em minhas técnicas de desenho inacreditável. Uma rotina semanal cumprida, nem eu imaginei que fosse capaz. Um ano possui cerca de 52 semanas, descontando o mês de Janeiro 2012 que eu ainda não havia retornado com a Saga Diamante temos 45 capítulos postados. Mas vejam que interessante, provavelmente agora terminarei a temporada em Janeiro de 2013, portanto foi um período de 1 ano para concluir essa saga. 1 ano convivendo com personagens praticamente todos os dias, 1 ano vendo-os crescerem assim como seu escritor. Criando, melhorando, aperfeiçoando. Foi difícil, mas valeu a pena. Para mim a Saga Diamante foi melhor do qualquer outra, mas acho que eu gosto de surpreender a mim mesmo, pois eu disse a mesma coisa com a Saga Pérola. Enta já podemos presumir muitas coisas da Saga Platina, não acham?

Spear Pillar - A Última Fase
Sendo este o último fim de semana do ano, creio que teremos aqui também a última postagem formal assim dizendo. Nessa época muita gente vai viajar, mas ainda não é tempo de descansar, pois faltam dois capítulos para concluir o Arco dos Lendários. Quando eu fechar este Arco com chave de ouro apenas aí poderei soltar um suspiro e ter minhas férias bem merecidas. Mas antes quero ver alguém socar a cara da Comandante Mars, o Waltão revolucionando a nova Era ou ver o Luke detonando uma facção inteira no Distortion World. Aí sim poderia ir dormir em paz.

O que posso dizer sobre esse capítulo? Creio que os fãs mais fissurados por Pokémon irão adorar, afinal, quem não esperou a chegada dos Pokémons Lendários? Não sou lá o maior fã deles, mas se a maioria gosta fiz algo na mesma proporção, e posso garantir que dessa vez quem se sobressaiu foram as descrições, tudo no melhor nível possível. Quem diria que desde os primórdios no Capítulo 2 de Sinnoh já víamos o pequeno Mesprit e o Cyrus dando as caras no enredo. Admito que foi até estranho alcançar esse trecho da história, mas isso é a prova de que quando desejamos algo somos capazes de alcançar.

Um Vislumbre de 2013
Para fechar 2012 laçarei um especial chamado Support Conversation, e muito provavelmente esse especial será estendido por muito tempo e quem sabe até concorrer como um dos melhores em 2013, pois a ideia em si é fabulosa. Já tenho planos para o que vem pela frente, mas tenho prioridade em terminar tudo que está faltando aqui em Sinnoh, a começar pelos dois últimos capítulos e as atualizações das páginas do Menu. Bem, sem mais delongas, vou indo nessa. Deixo aqui os desejos de um feliz ano novo para todos os visitantes, pois tenho certeza que 2013 será ainda melhor. Posso afirmar que 2012 foi o meu ano do aprendizado, sai da água para o vinho, do Paint para o Photoshop, mas acabei deixando algumas coisas passarem. Agora pretendo ir aos poucos colocando minha rotina em ordem. Desejo que o mundo das fanfictions possa bombar daqui para frente, e que muitos outros ainda venham a surgir! Contagem regressiva para o término da Saga Diamante, agora faltam apenas 2 Capítulos.

Capitulo 63

Meu Pequeno Irmão

O ritual estava prestes a ser iniciado. O céu permanecia escuro como se lamentasse a traição daquilo que se tem maior confiança, um laço que jamais poderia ser reatado. As nuvens formavam um manto de relâmpagos debaixo de seus pés, como numa terra imaginável onde apenas os mais sonhadores poderiam alcançar. Os Irmãos Wallers encontravam-se em uma pequena sala onde receberam alguns preparativos e os membros mais experientes da corporação dos Galactics realizavam uma espécie de cerimônia ao seu redor. Luke não sabia se aquilo se trava da religião ou de qualquer outro preparativo das crenças de sua tia, mas achava interessante, tinha sede por coisas novas, e essa curiosidade certamente o levava rumo a sua sina iminente. O jovem ainda lembrava-se das palavras de Martha, a moça sempre dissera que tudo aquilo era por um mundo melhor, bastasse confiar nela, bastasse confiar em sua família. Então, como poderia algo sair errado?
Luke deu de ombros ao perigo que estava por vir e apenas esticou os braços para os lados enquanto alguns cientistas ainda mediam suas proporções corpóreas. Lukas apenas o aguardava após ter feito todas as sessões, mas era uma longa série de perguntas que deviam ser respondidas com clareza para os ouvidos surdos daqueles velhos, sempre recebendo o mesmo aceno positivo com a cabeça, sempre ocultando algo.
— Luke Wallers, certo? — perguntou um dos examinadores, murmurando sem resposta enquanto balançava a cabeça de maneira automática. — Irmãos gêmeos idênticos. Tipo sanguíneo e DNA conferem. Vocês dois serão perfeitos.
Luke cumprimentou o velho e logo foi em direção do irmão para colocar seu blusão. Lukas apenas aguardava o fim daquilo tudo para ir embora, ele sabia que sua mãe e Marshall ficariam furiosos pelo atraso, mas o problema é que ambos estavam num lugar desconhecido e não faziam ideia de como voltar. Com todas as suspeitas, estava disposto a terminar seu serviço para voltar o quanto antes.
— Será que ainda vai demorar muito? — perguntou Lukas.
— É melhor ficar tranquilo, cara. É um favor para a tia Martha, ela sempre faz tanta coisa pra gente e nós nunca podemos fazer nada para retribuir. Prometo que vai ser rapidão, e logo nós dois voltamos para receber o velho, demoro?
— É, acho que você tem razão... Não custa nada, eu acho.
Ao terminarem, os Irmãos Wallers saíram da sala e foram escoltados por dois soldados até o santuário central. Agora, diante de seus olhos, estava a coluna teatral dos tempos antigos. Aquele ambiente parecia ter sido construídos por divindades, pois certamente não era obra de nenhum arquiteto ou engenheiro humano, pareciam ter sido esculpidos por anjos. Um lindo vitral encontrava-se no centro, e Lukas desejou contemplá-lo por um longo tempo embora fosse impedido pelos soldados que teimavam em apressá-los. Se aquele santuário era um ambiente sagrado, então fora de suas terras tudo parecia ter sido devastado. Uma ampla área montanhosa e íngreme estendia-se com as mesmas fileiras de colunas, mas agora destruídas e sem o brilho de sua proeminência passada. Eles ainda não faziam ideia de onde estavam.
Sua tia, Martha, estava presente, e logo ao lado era possível ver os Comandantes Saturn e Jupiter na companhia de seus respectivos batalhões. Cyrus caminhou até o local lentamente, e apesar de todo o ritual que era preparado Luke tinha a impressão de que aquilo não passava de desejos inoculados de cientistas lunáticos. Cyrus reuniu toda a facção ao seu redor e por um momento os murmúrios cessaram. Diante de diversas pessoas estavam dois jovens gêmeos, morenos, de olhos claros e bem vestidos; era como se todas aquelas pessoas apenas aguardassem a sua chegada. Assim que os irmãos chegaram tudo se calou, os olhares os perfuraram de tal maneira que chegou a incomodá-los. Lukas não pôde conter um sussurro no ouvido do irmão:
— Eu não quero ficar aqui...
Os pilares destruídos pareciam contar a história de uma guerra que fora travada naquele lugar há milhares de anos, muitos deles já encontravam-se destruídos e caindo aos pedaços, mas ainda assim não deixavam de parecer ter sido obras feitas por divindades, mãos sobrenaturais, se é que ainda exista fé para acreditarem naquilo. Os jovens notaram que pisavam sobre uma área circular que conglomerava um triângulo menor, equilátero, três pontos que apontavam em direção do norte, onde as constelações celestiais indicavam.

                   

Cyrus deu uma breve ordem e cada um de seus comandantes lançaram uma Master Ball que revelou três Pokémons lendários: Mesprit, Azelf e Uxie. Muitos se surpreenderam com aquela revelação, até mesmo os membros da própria corporação, e o mais misterioso era entender como um simples e mortal ser humano era capaz de exercer controle sobre aquelas criaturas. Durante uma década os Galactics juntaram recursos para criar Master Balls, milhões de dólares investidos, trapaças e corrupção envoltas para alcançar um objetivo em comum, e agora, finalmente haviam conseguido. Para Cyrus, aquilo era a prova de que a raça humana estava muito acima de qualquer divindade, e assim, deu início ao seu discurso.
— Hoje, diante dos pés de onde tudo foi criado, tudo chegará ao seu fim, da mesma maneira que irá recomeçar. Este é o Spear Pillar. — disse o homem com palavras pré-selecionadas, mas que foram aplaudidas com fervor — Com a Red Chain em nossas mãos forçarei a abertura para um portal de uma outra dimensão, e ganharemos controle sobre os Guardiões do Tempo e do Espaço, eles farão a nossa vontade! Isso trará a destruição de todas as coisas, com o fim de tudo não haverá mais conflitos. É muito mais fácil construir um novo mundo do que arrumar o que já foi estragado, eu serei o governante de todas as coisas, eu serei uma divindade!
Em meio aos aplausos de devoção de seus milhares de seguidores, ainda era possível ouvir o tom debochado de uma criança.
 — Esse aí já não bate bem da cabeça. — cochichou Luke para seu irmão, mas Lukas não riu. Pressentia algo ruim demais para divertir-se com qualquer coisa, e até hoje aquele sentido extra sempre o livrara de apuros. Cyrus apontou para os dois jovens chegando a assustá-los, ordenando na sequência com uma voz rigorosa:
— Iniciem o ritual!
Os soldados dos Galactics correram em direção de Luke e Lukas e imediatamente trouxeram cordas para amarrá-los. Lukas suspeitava daquilo e sacou a Nest Ball de Watt para impedir qualquer um que se aproximasse, mas Cyrus ergueu a mão e pediu que seus servos parassem.
— Vocês vão querer colaborar, não vão? — indagou o homem.
— Desculpe-me, senhor, mas todos têm o direito de lutar pela liberdade e por seus ideais, não vejo motivo para que amarrem as nossas mãos, para mim isto chega a ser um ultraje aos direitos humanos. Tudo isso está indo longe demais, e creio que sem nós vocês não poderão prosseguir com o que têm em mente, estou certo? — indagou Lukas de forma agressiva, mas dizendo apenas a verdade — Se não contarem o que planejam para mim e meu irmão, não iremos ajudar.
Cyrus sorriu, apenas sussurrando palavras como um velho pai que aninha o filho antes de levá-lo à cama.
— Eu desejo apenas um mundo melhor para todos nós. Vocês são as crianças mais fortes dessa geração, nenhum outro seria capaz de cumprir tal tarefa. Peço humildemente a ajuda de vocês, Irmãos Wallers, e garanto que seus nomes serão eternizados na história.
Lukas mordeu os lábios não se contentando com a resposta, mas Luke ouvira algo que lhe atiçara os anseios. Os mais fortes de sua geração. Nenhum outro seria capaz de fazer o mesmo. Eternizado pela história. Levado pela cobiça das palavras daquele homem, Luke tocou levemente no ombro do irmão e falou:
— Vamos terminar com isso, e eu te levo para casa.
— Mas, Luke...
— Não precisa confiar neles, peço para que confie em mim. Apenas em mim.
Lukas abaixou a fronte sem desviar os olhos dos de seu irmão, e embora as palavras não lhe tenham saído da boca ele sentiu uma enorme vontade de dizer: Eu confio, Luke. Eu iria com você até o fim. O moreno sorriu vendo que conseguira acalmar o jovem irmão, e por fim, pediu para Cyrus adiantasse aquele ritual para que eles pudessem ir embora logo, o tempo já havia passado além do limite.
Cyrus virou-se não escondendo certo interesse no segundo garoto. Foi em direção de Luke e após encará-lo friamente nos olhos soltou-lhe uma baforada que cheirava a cigarro, mas Luke se conteve. Ele pôde ver que Cyrus mal tinha sobrancelhas e carregava os traços de um homem muito mais velho e desgastado do que qualquer outro. O líder da corporação cruzou os braços e perguntou de forma breve:
— Você é único, meu jovem. Único em todo esse universo, e por sua audácia chegará mais longe do que todos os reis do passado. Seu nome será eternizado e sua fama atingirá as estrelas, se colaborar, é claro. Lembre-se dessas palavras, criança. — disse Cyrus antes de recompor a postura — Qual é o seu nome?
— Luke Wallers. — ele respondeu com orgulho estampado em seu segundo nome.
— Lembrar-me-ei de você antes do fim, Luke Wallers. — repetiu Cyrus com convicção, em seguida direcionando seu olhar à Lukas e sussurrando de maneira ríspida — Mas eu não diria o mesmo de seu irmão.
Assim que o homem afastou-se Lukas puxou a manga de Luke e o confrontou:
— O que pensa que está fazendo?
— Sendo eu. — respondeu Luke com certa sinceridade, mas logo sorrindo da maneira costumeira para confortar o irmão que parecia apreensivo. — Não esquenta, o que esses caras poderiam fazer contra nós? Você acha que desejar um mundo melhor é algo ruim? Vivemos numa sociedade conturbada, com uma raça hipócrita e que vive nessa busca desenfreada pelo lucro, lucro, lucro, lucro... Meu irmão, desejar um mundo melhor não é loucura, seria apenas o mais sensato.
— Mas destruir tudo para recomeçar? Isso é certo?
Quando Lukas voltou sua atenção para Cyrus notou que ele retomara seu discurso para seus seguidores. Mais uma vez o homem foi para cima de uma plataforma esculpida em mármore, enquanto dois de seus seguidores amarravam os braços dos jovens irmãos. Lukas observou as amarras e notou que estavam bem leves, soltar não seria um problema, mas Luke chegou a rir quando foi alertado:
— Segure nas mãos de seu irmão.
— Qual é, sério isso? Eu não seguro na mão dele desde que a gente brigava e o pai nos mandava ficar abraçados a tarde toda. Tenho que dar a mão para ele mesmo?
— Luke, por favor. — pediu o próprio Lukas que parecia mais apreensivo que o normal.
Luke esticou a mão e segurou nas de Lukas. Estavam geladas e trêmulas, o que até chegou a assustá-lo. Não satisfeito com aquilo Luke segurou-o com mais força na tentativa de transmitir calor, ao notar o ato seu irmão retribuiu um sorriso e engoliu seco, fechando os olhos com força e desejando que aquela estranha cerimônia terminasse.
Logo, a voz de Cyrus pôde ser ouvida:
— Eu criarei um mundo inteiramente novo. O mundo incompleto e repugnante que vivemos irá desaparecer, vou redefinir tudo ao zero. Criarei um mundo de perfeição completa, nada tão vago e incompleto quanto o espírito que pode permanecer! Uxie, o ser da sabedoria; Azelf, o ser da força de vontade; e Mesprit, o ser das emoções!! Abram os portais do Distortion World, é o que lhes peço!!

      
Os lendários guardiões do lago foram em direção do triângulo e começaram a realizar um contorno em volta das marcas desenhadas no chão. O céu escureceu numa intensidade ainda maior, tudo ao redor começou a tornar-se cinza enquanto o chão ruía e o continente sofria uma transformação. Aquele mal tempo teria pegado a todos de surpresa, contorções imagináveis aconteciam no espaço e um brilho na intensidade de uma supernova tomou conta do santuário ofuscando a visando de todos. O universo girou, girou, e girou. Ele era forçado a abrir passagem para um mundo proibido, um universo há muito esquecido de sua própria existência.

Em breve Sinnoh veria uma mudança estrondosa, por um momento foi como se todos os climas se alterassem, os mares se tornariam traiçoeiros, as montanhas colidiram umas com as outras e a essência da vida desapareceria. Os Irmãos Wallers ainda estavam de pé naquele círculo que agora brilhava como uma estrela, assim que Luke recuperou sua visão entreabriu os olhos desfocados e pôde ver as silhuetas de seu irmão em sua frente. Lukas estava mais pálido do que nunca.
— Eu estou com medo. — disse Lukas, como se por um momento todo o silêncio dominasse aquele santuário e apenas os dois estivessem ali presentes. Luke segurou nas mãos do moreno com mais força, demonstrando um sorriso cansado mas determinado.
— Relaxa, irmãozinho. Eu estou aqui para te proteger.
— Promete? — ele indagou — Promete que vai me proteger?
— Eu prometo.
E então, toda aquela visão ofuscou-se no momento em que Lukas fechou os olhos e caiu no chão. Sem ter como se segurar a corda simplesmente rompeu e o jovem caiu com a respiração nula. As pernas de Luke não se mexeram, tudo ao seu redor escureceu e ele não conseguia sequer sair daquela posição para ajudar o seu irmão ou pedir auxílio de seus Pokémons, seus melhores amigos. Ele estava sozinho. O que estava acontecendo com ele? O estava acontecendo naquele lugar? O rapaz teve forças para virar-se e encarar sua tia do outro lado, ela tinha os olhos arregalados numa clara expressão de tormenta e apreensão. As palavras de Luke soaram como uma ameaça envolta em fúria:
— O que você fez?
Os laços familiares teriam se rompido, e ao chamá-la daquela maneira tão fria e saudosa o jovem a tratou como uma completa desconhecida. A Comandante chegou inclusive a cair para trás pelo medo que sentiu apenas em ouvir aquelas palavras. Assim que Lukas sucumbira para a misteriosa força dos lendários Cyrus esticou as mãos para o céu e gritou em agradecimento triunfal:
— Trouxemos diante de vocês as oferendas, meus senhores! Derrame sua bondade perante nós, humanos, e aceitem humildemente a vida que lhes concedemos!
Luke encarou seu irmão no chão e percebeu que ele não se movia, e tão pouco se pulmão indicando que ele já não respirava. Lentamente o rapaz foi abaixando os braços e retirando as cordas de seus punhos, mas ainda não tinha forças para sair daquele portal e acertar as contas com o lunático que o colocara naquela situação. Luke encarou a todos de forma firme e nunca antes uma palavra chula saíra de sua boca de maneira tão ameaçadora:
— Que porra está acontecendo? — Ele olhava ao seu redor, mas todos pareciam loucos a beira do abismo — Mars! O que você fez?! — a comandante apenas abaixou a fronte e tapou os ouvidos, fingindo não ver o que acontecia na frente de seus olhos.
A aura branca dominava a ambos, e mesmo que a ira o dominasse como uma quimera aprisionada ele sentiu que sua força também começava a esvair-se. Começou a sentir o mesmo mal estar que seu irmão, caindo de joelhos diante dele mas ainda sem poder abraçá-lo por uma força invisível que o impedia. O portal para uma nova dimensão só poderia ser aberto com uma oferenda o suficiente para satisfazer as divindades mitológicas, e embora nenhum humano fosse capaz de conter tamanha força vital, dois gêmeos idênticos que compartilhassem do mesmo tipo sanguíneo eram como um, unidos eles eram o mesmo.
Luke sentiu uma estranha fraqueza consumir-lhe, era como se seu espírito tivesse sido arrancado perpetuamente; mal tinha forças para chamar algum de seus Pokémons e encontrou-se cada vez mais debilitado naquela situação. Lamentou por não ter acreditado em seu irmão, e agora, vê-lo compartilhar do mesmo sofrimento trazia uma dor imensurável. E o pior, ele ainda não respirava. O jovem encontrou-se perdido em seus próprios pensamentos apenas sussurrando um nome de maneira ofegante.
— L-Lukas...? — murmurou, quase perdendo a consciência de seus atos — Como eu pude deixar que fizessem isso com você...? Eu prometi que iria cuidar de você, eu prometi, eu prometi... E... Não fui capaz de cumprir minha promessa. Como pude ser tão fraco...?! Você estava comigo quando mais precisei, e eu mesmo o encaminhei para sua sina.
Ele nunca te perdoará por isso. Nem os seus pais, nem os seus melhores amigos. Ninguém irá. Você está sozinho nesse mundo agora, Luke. Você tem apenas a mim. E eu, a você. — dizia uma voz em sua cabeça, antes de Luke cair no chão e perder consciência da batalha que começava a ser travada ao seu redor.
Um imenso portal foi aberto diante de um mural que se assemelhava à um calendário escrito por uma civilização antiga. Toda a facção teria aplaudido se os pilares não começassem a ruir o que os obrigou a saírem dali às pressas. Os Galactics liberavam Pokémons para socorrê-los, mas logo um portal começou a ser aberto sugando tudo ao seu redor. De uma pequena brecha logo ele transformou-se num buraco negro que sugava humanos e criaturas para nunca mais serem vistos. Lutando contra aquela força sobrenatural, o espírito dos Irmãos Wallers desaparecia, e a Comandante Mars fechava os olhos desejando não ver o sofrimento que ela própria causara para seus sobrinhos. O Comandante Saturn observava tudo aquilo pasmo, ele correu em direção de Cyrus e ergueu-o pela gola da blusa com enorme fúria em meio à sua euforia.
— Você nunca mencionou que a oferenda morreria após o ritual!!
Cyrus deu um soco no rosto do Comandante que foi lançado para longe. O homem ajeitou o roupão e voltou a contemplar sua maior conquista com um olhar de desdém para aquele rapaz que já fora seu melhor agente.

— Não tire o brilho desse momento, Comandante Saturn. Se você deseja culpar alguém, então culpe aquela mulher que você julga amar. Ela sempre soube de tudo, e ainda assim ofereceu sua família em prol de seus ideais.
Saturn levantou-se limpando o sangue do rosto, encarou Mars que acenava de forma negativa com as mãos como se tentasse omitir o inegável. Seu parceiro estava ofegante e mal pôde acreditar naquilo, mesmo diante do mais duro soco que levara ele aguentou com firmeza, mas o pior de tudo fora aquela flecha que perfurara seu coração, mostrando que a mulher mais meiga e sensível que conhecera havia se transformado em uma lunática incondicional. Os pilares ao seu redor tremiam, mas ele não conseguia acreditar como Martha, a mulher que tanto amou, poderia fazer aquilo com os próprios sobrinhos.
— É verdade o que ele diz, Martha...? — ele sussurrou decepcionado.
— Alex, eu não queria...
— O que está acontecendo...? — interrompeu a voz de Cyrus em meio ao caos que era gerado.
Grande parte de seus seguidores já haviam sido sugados por aquele vórtex negro, e os que fugiram tentavam ajudar seus companheiros que haviam sido soterrados pelos escombros dos pilares. Cyrus observou o portal e viu que pouco a pouco os Três Guardiões do Lago paravam e se afastavam. Eles temiam algo, temiam algo que estava por vir, e estava próximo.
— O que houve com o portal? Onde estão os lendários guardiões do mundo ancestral? Ninguém está aqui para me impedir, nenhum fedelho destruiu meu plano dessa vez, o que está acontecendo de errado?!
De repente, era claro notar que algo forçava a entrada daquele portal por dentro. Uma explosão chamou a atenção de todos, e vendo que um dos pilares estava para despencar obrigou que o próprio Cyrus pulasse para não ser atingido. Limpando as vestes sujas o homem recobrou a postura e esticou os braços para o portal insinuando o recebimento de seu poder, ele dera o que o guardião buscava, agora desejava o seu pagamento. Estava dominado pela loucura de seus ideias ultrapassavam qualquer limite, há tantos anos não conseguia ver mais nada. Esqueceu-se daqueles que o ajudaram, esqueceu-se dos amigos... Esqueceu até a própria vida. O enorme monumento caiu criando uma nuvem de fumaça e poeira, mas Cyrus mal se moveu, continuou com as mãos para o alto e gritou com entonação:
— É aqui onde cumprirei meu destino! Palkia e Dialga. Venham até mim!
Uma enorme sombra pareceu surgir conforme um portal era totalmente aberto em uma dimensão paralela. Os humanos sempre desejaram conhecer aquele mundo alternativo, mas não ninguém imaginou que aquele que lá habitava também desejasse sair. O tempo e o espaço pareceram inverter, tudo aconteceu tão depressa que Cyrus mal notou quando a sombra de uma serpente agarrou-o com a cauda e o apertou com intensidade, um par de olhos vermelhos surgiram na escuridão e o encararam de forma breve e assustadora. A criatura o ameaçou, e sua voz sinistra pôde ser ouvida como um chiado tênue em sua mente.
— Eu sou sombra e a escuridão que ameaçou este mundo por tantas Eras no passado. Tu desejas atenção, poder e benevolência. Acima de tudo desejas criar um mundo só teu, e saiba que eu lhe darei. — disse a serpente de forma traiçoeira — Bem vindo ao meu mundo, humano.
A sombra o consumiu e o corpo do homem desapareceu no meio do nada. A Comandante Mars soltou um grito de desespero enquanto tentava correr em vão, mal notou quando duas outras criaturas surgiram do mesmo portal, e como titãs aprisionados abriram uma dimensão paralela com fúria e cólera.
Eram Dragões de tempos antigos, revestidos em uma armadura celestial condecorada pelas divindades, outrora deuses do passado e com força que os humanos jamais poderiam imaginar. O primeiro dragão era branco, tinha o revestimento de escamas como as do oceano e a armadura de pérolas incandescentes. Tinha uma longa cauda e a cabeça era coberta por um elmo de prata. As mãos tinham garras cerrilhadas como lanças que estendiam-se até onde o universo permitir. Ao seu lado estava o dragão metálico, revestido de sua armadura impenetrável e a força capaz de controlar o tempo. Caminhava sobre quatro patas como a montaria temporal, e sua força física era capaz de romper até mesmo as barreiras mais intransponíveis. Aqueles eram Palkia e Dialga, os guardiões do espaço e do tempo. Poucos foram aqueles que contemplaram o espetáculo, e selecionados são os que viveram para compartilhá-lo.
Tudo ao redor começou a ruir, e antes mesmo que os Galactics tentassem escapar a sombra que dominou Cyrus sugava a todos e os fazia desaparecer como se nunca tivessem existido. O desespero dominava.
— O que está acontecendo?!! — indagou a Comandante Jupiter espantada.
— O que nós criamos...? — respondeu Mars caindo no silêncio absoluto.
     
Palkia, o guardião do espaço, lançou um rápido olhar para o altar que fora criado para a abertura de seu portal, e vendo Luke e Lukas sucumbirem tendo sua força vital drenada, encarou a oferenda que lhe fora preparada. Pôde-se ouvir um dos soldados remanescentes gritarem:
— Vejam! O dragão lendário espacial aceitou a oferenda!
Um campo de força parecia cobrir a aura que circulava ao redor dos jovens, enquanto o trio lendário do lago temia a aproximação dos dois dragões. Palkia observou-os com um olhar severo e afastou seus braços ao formar uma esfera luminescente, preparando um ataque frontal. Aquele era o Spacial Rend, um dos ataques mais poderosos dos dragões. Ao ser disparado causou uma intensa explosão rompendo a barreira e liberando os jovens daquele tormento, mas ao contrário do que muitos pensavam, Palkia havia acabado de salvar os dois irmãos. Subitamente os jovens sentiram sua força vital retornar, mas ainda demoraram a compreender o que acontecia a sua volta, pareciam estar no meio de uma intensa batalha que nunca tomaram conhecimento. Lukas continuou esticado no chão enquanto Luke se ajoelhava e apalpava seu peito, ofegante.
— O que aconteceu conosco...? — perguntou o garoto.
Assim que Luke ergueu seu olhar ele pôde ver o imenso dragão perolado armado em sua armadura celestial. O Pokémon agachou até a altura do jovem e por um momento foi como se pudesse comunicar-se com ele, ainda que sua voz não soasse como nada que já tivesse ouvido.
— O mundo lhes dá as boas vindas, pois Arceus permitiu que vivessem mais uma vez. — disse Palkia de maneira pacífica — Você tem muita força em seu interior, Luke Wallers, mas peço que agora deixe o restante por nossa conta.
Luke revelou um sorriso ao ouvir aquilo, mas por pouco não foi ao chão sentindo uma dor intensa em seu peito, suas pernas mal conseguiam aguentar o seu peso. O Guardião do Espaço tentou auxiliá-lo e mesmo com seu tamanho descomunal ele sentia como se alguém o desse apoio para levantar-se, e assim finalmente pôde ficar de pé. Lukas não recuperara a consciência, e a criatura lendária temia por sua segurança. Palkia agachou até tê-lo em seu colo, e mesmo que a sua volta os Galactics remanescentes em conjunto com o trio lendário iniciassem um ataque o dragão sabia que tinha um dever maior a cumprir. Os golpes eram ineficazes, e por um momento Luke sentiu um alívio ao perceber que eles estavam de seu lado.
— Vou levá-lo para longe daqui. — alertou o guardião.
Palkia voltou-se para trás e chamou por Dialga, seu companheiro desde os dias da criação e que mais uma vez lutavam lado a lado. Os dois dragões eram como irmãos, e Luke percebeu sua aproximação como criaturas que tinham de compartilhar uma vida eterna de respeito mútuo e compreensão. Ele falou:
— Acha que consegue manter o controle por aqui em minha ausência? — perguntou Palkia.
— Não é nada que nós já não tenhamos lidado. — respondeu Dialga.
Os dois dragões se dispersaram seguindo cada qual para um rumo diferente. Em sua breve conversa com Palkia ele acreditou que aquela criatura lendária manteria seu irmão em segurança, pois precisava acreditar. Olhou para as próprias mãos e imaginou como ele próprio não fora capaz de cuidar de Lukas. Ele teria de carregar aquele fardo para o resto da vida, quase fora o responsável pela sina de sua família que resultaria na vida de ambos. Manteve o rosto baixo, os olhos dominados por um sentimento incontrolável de raiva. Virou-se para observar o portal do Distortion World que absorvia tudo aos poucos diminuindo de intensidade, e então começou a caminhar em sua direção.
Dialga, que impedia o cerco dos humanos e mantinha o controle da situação, voltou-se para o garoto ao vê-lo caminhar rumo a sua tragédia.
— Jovem humano, o que pensa que está fazendo? — indagou Dialga de forma breve.
— Desculpe, senhor lendário. Eles poderiam ter destruído o mundo inteiro, poderiam ter criado uma nova dimensão, poderiam até mesmo ter causado uma guerra sem fim entre dois mundos; mas esses caras tentaram matar meu irmão, e aí está uma coisa que eu não posso perdoar.
Luke sacou uma única Dusk Ball de seu bolso encarando o portal negro de onde a sombra negra da serpente surgira. Luke não a temia, pois conhecia uma certa Serpente Metálica muito mais poderosa do que qualquer outra. Dialga inicialmente preocupou-se com aquilo, mas sentia naquele garoto uma determinação que nunca vira em nenhum outro ser vivo. Um sentimento à muito esquecido pela humanidade.
— Você pode tomar conta das coisas por aqui? Tenho algumas contas a resolver com esse Cyrus. — afirmou Luke.
— É bom voltar há tempo, ou a Palkia ficaria frustrada conosco. Ela ordenou que eu fosse o responsável por você, mas creio que ambos sejamos capazes de cuidar-se sozinhos. Vá, siga seus ideais. — respondeu o grandioso Dialga, não escondendo um sorriso.
Luke sorriu e confirmou a proposta, caminhando em direção do Distortion World sem saber o que o aguardaria dali para frente. Ao entrar no portal ele desapareceu, mas uma grande batalha estava para tomar início do lado real do mundo.
Dialga precisava manter o controle da situação, mas sua prioridade era impedir o trio do lago, os três guardiões que juntos tinham um incrível poder de persuasão, a ambição deles era tomar posse da mente de Pakia ou Dialga para criar um universo novo se tivessem a chance, e assim, dariam início à destruição do mundo dos humanos, algo que nem mesmo Dialga poderia impedir sozinho. Cyrus tentou conquistar a força de seres mitológicos usando o poder do trio lendário dos lagos de Sinnoh, ele almejava destruir o universo e reconstruí-lo, tornando-se um deus. Dialga não poderia perder o controle, e precisava eliminá-los o quanto antes.
— Precisamos apenas de se auxílio, Lord Dialga, para colocar um fim definitivo à raça dos humanos. — alertou Mesprit.
 Por muito tempo eles se colocaram contra nós, eles desejaram ser mas poderosos do que nós. Capturam nossos parentes, nos maltratam, vivem sem vontade alguma de forma mecânica e automática. Eles próprios construíram sua queda. Eles desejam a supremacia, querem tornar-se deuses. Eles querem ser como nós. — acompanhou o sábio Uxie.
— Queremos convencê-lo de que seria a escolha mais sensata, me amigo. — respondeu Azelf em certo tom de deboche.
O Dragão Metálico soltou um suspiro de indignação ao ouvir aquilo.
— E pensar que vocês já foram considerados os mais sábios dentre todos os lendários... E agora, desejam eliminar os humanos. Vocês, que lhes deram as emoções, a força de vontade e a sabedoria. Sem vocês, eles não são capazes de seguir em frente. — afirmou Dialga. — Eu, sinceramente, não me importo se todos forem destruídos. — o dragão soltou uma gargalhada — Mas serei obrigado a acabar com vocês porque a Palkia pediu, porque ela confia em um único humano, e para mim isso é o suficiente.

Uma intensa batalha tomou início entre as criaturas lendárias enquanto a Comandante Mars escondia-se atrás de uma pedra vendo que àquela altura era impossível controlar os Pokémons que eles mesmos haviam capturado. Era uma força que excedia a compreensão humana, e no fim, mesmo que Cyrus fosse capaz de criar um novo universo, todos seriam destruídos, pois os Pokémons já estavam fartos da presença dos humanos, ou pelo menos era aquilo que ela pensara. Lágrimas rolavam de seu rosto, Martha se condenava pelo ato tolo de oferecer seus sobrinhos, quase que seus próprios filhos, para uma causa sem sentido. A moça caiu no chão escondendo o rosto pela vergonha inaudível, e mesmo que gritasse em meio ao seu lamento ninguém poderia ouvi-la.
De repente, sentiu alguém se aproximando e de forma leve tocar em seu ombro.
— Presenciamos um espetáculo que não se vê todos os dias, não?
A Comandante ergueu seus olhos e notou que Proton agora estava ao seu lado, apenas apreciando a destruição do Spear Pillar no topo do Monte Coronet. Martha passou a mão em seus cabelos a ponto de arrancá-los, não acreditava como fora estúpida em desejar tudo aquilo para seguir um ideal tão ridículo, e aquele homem sempre a incentivara.
— Como pude ser tão tola, Proton?! Durante toda a infância sonhei com um mundo melhor onde as pessoas nunca sofressem como eu sofri, mas fui iludida pela ganância e segui até o fim os ideais dessa corporação!!
— Ei, isso também não é o fim do mundo. Quero dizer, estamos vivendo um, mas que diferença faz uma vez que todos nós vamos morrer? Ou melhor, você pode ser a única com o poder de mudar isso. Chega de sofrimento, chega de lamentar pelos erros do passado. Você fez suas decisões e amadureceu seus ideais. Todos têm o direito de lutar por aquilo que sonham... — assentiu Proton, logo sendo interrompido pela mulher.
— Um Mundo Melhor? Isso nunca vai existir, Proton! A própria natureza se revela contra nós. Agora todos nós vamos morrer, eu fui a responsável por esse holocausto!
— Mas você tentou, Martha. Não importa se deu certo, você tentou. E é por esse mesmo motivo que passei a respeitá-la, simplesmente a amá-la. Os sonhos podem nos levar mais longe do que imaginamos.
Mars olhou para Proton que com um sorriso tentador esticou o braço em direção dela e a agarrou para perto de si. Os dois se encararam, e a mulher abraçou-o sentindo um cisco da esperança retornar, ou simplesmente aguardando que o destino trouxesse sua morte tão merecida. Eles esqueceram do tempo e do espaço, desejaram apenas ficar daquela maneira por longos minutos.
— Você me amaria mesmo depois de tudo que fiz? — perguntou ela.
— Juntos, nossos ideais tentaram destruir o mundo duas vezes, procuramos alcançar a supremacia e chegamos muito perto, mas falhamos. Temos muito em comum, nunca conseguimos o que desejamos, mas espero que seu coração eu possa ter conquistado antes do fim.
— Bem, todos nós vamos morrer mesmo, não?
E assim, eles se beijaram, mas fora um beijo tão breve que logo em seguida puderam ouvir uma voz distante chamar:
— Martha, Martha!! Onde você está...?
Assim que a mulher virou-se notou que o Comandante Saturn a observava com os olhos arregalados e as pernas trêmulas. Seu coração fora partido mais uma vez ao ver que a mulher que amava o traíra, bem diante de seus olhos. Alexsander parou e encarou-a por um longo tempo. Proton riu de forma dissimulada e não pôde conter-se em provocá-lo.
— O que foi? Vai dizer que ela não te contou?
— A-Alex, eu... — ela sussurrou.
O namorado foi curto e grosso.
— Não precisa dizer nada.
— Alex!!!! — ela repetiu com entonação, mas recebeu uma resposta equivalente.
— Não, Martha. Simplesmente desapareça, não quero ouvir desculpas de você. Bem que percebi que você já não era a mesma, é como se faltasse a emoção que a tornou a mulher que já amei um dia.
Saturn saiu dali sem dizer mais nada, e antes que a mulher pudesse correr atrás dele Proton a segurou para que ela não cometesse o mesmo erro e partisse em direção do centro da batalha, onde as criaturas lendárias travavam uma luta sem fim.
— Ei, ei! Vai correr para lá e morrer como ele? Deixe o resto para esses lunáticos, deixe que eles se destruam e sucumbam perante o poder do universo. Vamos fugir, Martha, vamos fugir para muito longe.
A mulher soltou-se dos braços do executivo, encarando-o de forma severa.
— Ainda há salvação, Proton. E sempre haverá enquanto alguém acreditar.
Ela não lhe dirigiu mais nenhuma palavra, correu para onde Saturn ia e ignorou completamente a presença do amante. O Rocket riu, colocou as mãos no bolso e viu a destruição do mundo diante de seus próprios olhos. Não havia mais nada a fazer, e muito menos para onde fugir. No fim de tudo será que haveria esperança para a humanidade?
— Pode ir. Estarei esperando por você nesse mesmo lugar.
...E sempre haverá enquanto alguém acreditar...

Martha correu rumo a sua destruição, e conforme via o altar completamente destruído imaginou como tudo teria sido se ela jamais tivesse sido adotada. Talvez seria melhor se ela tivesse morrido naquele canto escuro há tantos anos atrás, ou se tivesse sido abandonada e nunca recebido o devido carinho que merecia. Ela era uma garota meiga e sonhadora, mas certa vez ouviu que o mundo não dá espaço para sonhadores, e por um momento desejou simplesmente desaparecer. As lágrimas dificultavam sua corrida atrás do Comandante Saturn, e aquilo a fazia pensar em como ela perdeu a única pessoa importante que restou em sua vida.
Tropeçou. Chegou a cair no chão usando suas mãos para não esfolar a cara e machucar ainda mais o sangue que já lhe escorria pelo rosto. Seus joelhos estavam ralados e as roupas rasgadas, em sua frente toda facção dos Galactics estava destruída. Quem não havia sido sugado pelo vórtex estava debaixo dos escombros, mas alguns afortunados foram capazes de fugir. Restavam poucos cientistas que dependiam do sucesso da missão para continuar atuando, mas até eles perdiam as esperanças. De repente, alguém estendeu-lhe a mão, e em sua frente Martha pôde ver o Comandante Saturn e Jupiter logo ao lado.
— Você voltou para mim...? — indagou ela com a voz cansada, quase perdendo a consciência de seus atos.
— Não. Voltei para que você reverta a destruição que causou. Vamos, Comandante Mars. Levante-se. — disse o homem com certa autoridade.
— Os Galactics continuarão de pé enquanto nosso senhor Cyrus estiver dentro daquele buraco negro, nós devemos resgatá-lo, e depois impediremos a destruição do mundo. Isso já foi longe demais. — continuou Jupiter.
— O que estão dizendo? Desistir daquilo que sonhamos a vida inteira? Deixar de lado um projeto que durou gerações? Vamos destruir tudo, vamos seguir com o plano e nos tornaremos os deuses de nosso tempo, mesmo sem o Senhor Cyrus! Não pensem que eu vá desistir, pois agora sou eu quem não precisa de vocês!! — respondeu a Comandante Mars, dominada por um instante de loucura.
Os olhos de Alexsander estampavam vergonha e decepção. Ela estava louca, talvez o choque fora tão grande que para Martha nada mais importava, nem mesmo sua própria existência. O Trio Lendário do Lago observavam aqueles atos, e para eles, aquilo era a prova de que a humanidade estava corrompida. O Comandente Saturn encarou a mulher com um olhar sincero, e mesmo que não estivesse revoltado, suas palavras machucaram mais do que qualquer espada.
— E pensar que já fui apaixonado por você, Martha. Onde foi que você se perdeu?
A moça agora não sentia vergonha pelo que fizera, ela mesmo construirá sua queda e estava disposta a seguir com ela até o fim. Em momento algum pediu perdão, aquelas palavras ainda estavam presas em sua garganta. Ela ainda estava com medo de fazê-lo, pois alguém como ela jamais seria perdoada. Quando ouviu uma explosão viu que Dialga tinha problemas em derrotar os três lendários sozinhos, e logo todo o templo do Spear Pillar seria destruído. Mesmo em meio à tormenta, Martha olhou para o céu e viu uma pena caindo com toda sua serenidade. A mulher agachou e a pegou, ao olhá-la mais fixadamente a reconheceu no mesmo instante.
— Espero que você receba a lição que merece. — disse Jupiter sentindo um ódio mortal.
Logo o grandioso Salamence de Walter fazia seu caminho até o topo do Mt. Coronet, enquanto Marshall chegava com seu Honchkrow junto de Glenn Combs. A atual campeã Cynthia também os acompanhara vindo junto de seu Togekiss, e acompanhada ao resgate estava Dawn Manson. Assim que o policial fez seu pouso o corvo negro apoiou-se em seu ombro e ele esticou o braço em direção de Martha. Mesmo que ela fosse irmã de Melyssa e fosse uma conhecida sua desde que eram crianças, a sentença teria de ser dada.
— Comandante Mars. —  bradou Marshall —  Você está presa sob tentativa de homicídio doloso, acusação sob cárcere privado e atentado. O Mundo está a beira de um colapso, e você é a culpada.
Em meio a toda a poeira uma sombra projetou-se, simplória como uma mulher caseira, mas carregando a fúria de uma mãe descontrolada e de uma irmã revoltada. A mulher tinha uma Altaria que trouxera sua treinadora planando como um brilho de esperança diante daquele céu escuro. Dona daquela pena, todos os demais ali presentes pararam para ouvir as palavras ríspidas da única mulher que fora capaz de domar o campeão Walter.
— Minha irmã, — disse a voz de Melyssa — está na hora disso tudo terminar.


      

FanArt - Haos Cyndaquil #3

Nome: Vítor Nogueira (Haos Cyndaquil)
Idade: 14 anos
Estado: São Paulo
Técnica: Photoshop

"(...) Retratei um dos meus casais favoritos, porque ainda não houveram muitos desenhos destes dois, então aproveitei para criar um *-* Por mais que a Milady seja minha personagem favorita eu acabo por gostar de todos os casais, man, você tem esse poder de nos fazer amar seus personagens ou odiar quando quiser uhauahuahuhauha Bom, vou ficando por aqui, cara. Feliz Natal, caso a gente não se fale antes, Bom Ano Novo também. Abraços aí, cara!— Haos Cyndaquil.

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Pelas barbas de Thundurus, que desenho lindo!! Épico!! Beijos manooo, cenas de beijo são tão epicamente românticas, lindas e picantes, dá vontade de ficar apreciando por várias e várias horas... Eu precisava treinar mais desse tipo de cena, só faltam oportunidades na história! kk No caso da Milady ela tem uma personalidade mais voltada para essa mocinha meiga com o lado tsundere dela. Own, essas mulheres revoltadas são uma tentação! 

Realmente, vou ter que concordar que faltam imagens desse casal. Na realidade falta até um remake da aparência deles, afinal, os dois ainda compartilham a mesma imagem, já passou da hora de cada um ter a sua, não acha? Mesmo que esses dois tenham aparições limitadas na história central acho que eles são os responsáveis por algumas das cenas mais marcantes de nossa fanfiction, desde o ocorrido no Day Care Center até a luta contra o Magnum e a Malbora. Vou guardar essa imagem no coração cara, e digo que ela facilmente poderia fazer parte do nosso Artbook! Suas técnicas de pintura estão ficando incríveis cara, e a escolha do fundo para esses dois foi impecável, não tinha como ser melhor. Bem, quem sabe quais são as surpresas que o futuro guarda para nossos adorados personagens? Obrigado pelos elogios cara, os Fire Tales são para mim o meu maior tesouro com a fic, são tantas personalidades e jeitos diferentes que todos se identificam com pelo menos um deles. Adorei o desenho, abração ae, Haos! — Canas Ominous.

FanArt - Bia-chan X

Nome: Hana (Bia-chan)
Idade: 12 anos
Estado: SP
Técnica: Paint Tool SAI

"Que o Red esteja pronto para o natal......— Bia-chan.

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Oh, e com certeza estava! Só faltou a presença dos amigos dele, o bacana do Natal é passá-lo ao lado da família e de todos aqueles que são importantes para nós. Então o que me diz de uma linda imagem com toda a galera de Pokémon? Notei que seus escolhidos sempre são o Red, o Ash ou então o Gary. Por que não juntar todos para uma comemoração? Seria uma verdadeira festa de arromba, hein! E por sinal Hana, eu a parabenizo por ser a primeira visitante a enviar mais de 10 fanarts para Sinnoh. Logo teremos de montar uma galeria particular hein, estamos muito perto de chegar aos 100 desenhos enviados, e aí sim teremos ainda mais motivos para se comemorar! Bem, sei que já passou da data, mas ainda aproveito para desejar um Feliz Natal! Que ele venha repleto de presentes, uhuul! — Canas Ominous.

Notas do Autor (Capítulo 62)

Antes que qualquer curioso venha perguntar, eu não estou em meu adorado quarto/escritório e consequentemente fiquei sem meu computador principal, com as imagens da notas do autor nesse meio, portanto, tive que improvisar. Provavelmente será a última vez, às vezes é bom dar uma variada, não? Chama a atenção da galera... *risos* 

Bem, como vocês têm passado de fim de mundo? kk Sorry, não pude resistir, até o Waltão teve que caçoar com os Maias. Vamos dar continuidade para o Arco dos Lendários, e por Arceus, nem eu acreditei que consegui postar esses capítulos exatamente no período do Fim do Mundo! End of World in Sinnoh, fuck yeah. Eu acabo tendo muita sorte com algumas coisas, nem eu acredito o tempo de postagem bateu certinho.

This is Like a Flashback ♫
Vocês concordarão comigo, dirão que eu poderia ter prolongado o capítulo e ido direto ao ponto onde acontecem as batalhas e os meteoros, porém, encontrei uma brecha para incluir antes da hora uma personagem importantíssima e muito amada.Vamos dar as boas vindas à uma nova integrante na equipe, afinal, quem não aguardava a chegada da Cynthia? Ela será uma das personagens mais importantes na Saga Platina, principalmente ao lado da Dawn. O bom é que eu consegui adiantar essa aparição e pode-se dizer que dediquei esse capítulo quase que exclusivamente para as duas, o flashback ocupou metade do episódio.

O que vem pela frente?
Semana que vem, se Arceus desejar e a inspiração voltar, estarei trazendo um capítulo esplêndido para vocês, está na hora de ação de verdade com um duelo de titãs! Se meus cálculos conferem conforme o confirmado... faltam três capítulos para o fim da Saga Diamante. Três. Apenas três. Três, cara. Depois de um longo ano escrevendo todos os dias vejo que acabo de entrar nos metros finais para alcançar a linha de chegada. Quem vai estar aí para contemplar este incrível marco? Estarei no aguardo de todos vocês, hein! Quero lançar logo o The Omascar, garanto que será uma premiação inesquecível.

Capítulo 62

MITOLOGIA

“No início havia apenas um tumulto na agitação do caos, e no coração do caos, onde todas as coisas se tornaram um, surgiu o ovo, e tudo caiu no vórtex da existência. O ovo deu origem ao Um Original, e de si, dois seres coexistiram. O Um os fez, o tempo começou a girar e o espaço a se expandir. Enquanto a guerra entre a luz e escuridão continua, heróis e vilões se tornam mais difíceis de identificar. Espíritos gêmeos separados no nascimento lutam por seu lugar no tempo e espaço para se solidificar.
          De si mesmo, novamente, três coisas vivas o Original fez. O relógio bate rápido e mais rápido enquanto a vida corre como uma maratona. O mundo criado levou ao sono inflexível... O fim é só o começo, o começo da calmaria antes da tempestade.”

A Comandante caminhava no mesmo ritmo dos jovens com passos lentos e incontidos. Martha parecia ser guiada de forma maquinal para seu rumo, não dirigia nenhuma palavra às crianças e mal conseguia olhá-las no rosto. Luke e Lukas iam acompanhando sua tia e perguntavam-se do motivo de tudo aquilo, mas optaram por serem discretos e não se meterem nos assuntos particulares da mulher. Martha guiou seus sobrinhos até uma área afastada de Canalave, próxima à uma gruta na costa e com diversas criaturas aquáticas que faziam daquele ponto sua moradia. Assim que ela atingiu seu destino soltou um longo suspiro e virou-se para trás, dizendo com certa apreensão:
— É aqui, chegamos ao nosso destino.
Os Irmãos Wallers olharam tudo ao seu redor e estranharam que a mulher tivesse tamanha urgência em realizar um trabalho no meio do nada. A vista era bela, o mar encontrava-se calmo, mas a clara mudança na temperatura trazia a sensação de uma possível virada no tempo. Os jovens já estavam há um pouco mais de uma milha de distância do hospital onde Marshall os aguardava, e se demorassem em suas tarefas não seriam capazes de voltar há tempo de receberem seus pais.
Lukas olhava no relógio incansavelmente vendo que Martha até então não dera nem dica do que se tratava aquele favor. A Comandante procurou por um pedaço de graveto no chão, e assim começou a desenhar um círculo na areia branca da praia. Os jovens observavam com atenção contemplando a perfeição da natureza enquanto o som das ondas trazia em conjunto da bela visão do pôr-do-sol no horizonte distante. Poderia alguém odiar aquilo? Assim que Martha terminou seu círculo ela voltou-se para os jovens e demonstrou um sorriso triste e dissimulado. Ela parecia extremamente chateada com algo, por isso suas palavras saíram quase que um lamento:
— Vocês acham que as pessoas merecem uma segunda chance pelas coisas ruins que fizeram em vida?
Lukas estava sentado sobre um monte de areia, e ao notar a expressão no rosto de sua tia percebeu que algo claramente a incomodava, e aquilo não se tratava de uma simples pergunta cotidiana.
— Apesar de toda a maldade que existe no mundo creio que o perdão seja a maior dádiva dada à raça humana. Se há arrependimento, há perdão.
Martha sorriu, e vendo a sabedoria nas palavras de seu sobrinho apenas agachou em direção deles e abraçou-os levemente. Os jovens não entenderam muito bem a reação espontânea da mulher, mas retribuíram de forma carinhosa. A mulher agarrou um dispositivo de seu uniforme, revelando uma Master Ball que fez os olhos de Luke brilharem ao vê-la nas mãos de sua tia. A Comandante lançou a cápsula para o alto e dela surgiu uma estranha criatura rósea que flutuava em volta da mulher de forma serena e agitada. Martha segurou no rosto do Pokémon e voltou-se para os jovens.
— Este é Mesprit, a essência da emoção.
— W-Woah! Espera um pouco, tia. Como foi que você conseguiu um... Um Pokémon Lendário?! — bradou Luke extremamente surpreso.
— Esta é a criatura que habita o Lake Verity, próximo de Twinleaf! — acrescentou Lukas pasmo — Nós o vimos em um sonho no começo do ano, como eu poderia esquecê-lo?
— Eu e este Pokémon temos muito em comum. — afirmou Martha — Na realidade, todos nós temos, e por este motivo eu os convoquei aqui. Hoje daremos início ao nosso Novo Mundo, longe do caos, da tragédia, da violência e do desespero. Este dia será marcado como a criação de um mundo melhor para todos nós.
Martha segurou no braço dos jovens e os trouxe para dentro do círculo desenhado no chão. Os Irmãos Wallers sentiram uma aura intensa percorrer a sua volta, e por um momento pareceu que toda a noção de tempo e espaço tornou-se nula. Martha permanecia com uma feição de decepção, e assim que seus sobrinhos adentraram o portal a mulher encontrou-se fechando os olhos com força e balbuciando palavras de arrependimento:
— Perdoem-me por tudo.
Mesprit, o lendário guardião do lago, começou a contornar o portal numa velocidade impressionante. A areia ao redor formava redemoinhos de pequeno porte e as palmeiras curvavam-se como num ritual. Luke fechou os olhos vendo tudo ao seu redor escurecer, o pôr-do-sol desaparecer, e os mundo onírico o dominar. Quando voltou a abri-los notou que já estava em um lugar totalmente diferente de Canalave, tratava-se de uma espécie de santuário decorado por ruínas antigas e pilares que cortavam os céus. O chão era condecorado por flores e um imenso vitral exalava toda sua grandeza diante das paredes de mármore do ambiente. Onde eles estavam?
Sua tia e seu irmão ainda estavam do seu lado, e Lukas compartilhava da mesma expressão espantada. Martha soltou a mão dos jovens e deixou o portal na medida que Mesprit a acompanhava e tocava seu rosto como se mantivesse uma comunicação direta com a moça. A Comandante Mars virou-se para os jovens e fez um aceno.
— Sigam-me.
— E-Ei, tia Martha, onde nós estamos? Como foi que viemos parar aqui, o que está acontecendo?! — Luke repetia incansavelmente em meio àquela estranha situação. Martha virou-se para o jovem e sorriu de forma confortante para que ele se acalmasse, e com um sorriso sereno de sua juventude disse com palavras suaves:
— Confiem em sua família, confiem em mim.
Levados pela confiança que sempre depositaram na mulher, os dois começaram a segui-la ainda que com certa hesitação. Martha era irmã de Melyssa, e desde pequenos Luke e Lukas lembravam-se de quando ela os visitava e trazia presentes para a alegria dos sobrinhos. Sua mãe era filha de uma família muito rica, mas havia algo que nunca lhes fora dito. Martha fora adotada quando ela ainda era muito nova. A grande diferença de idade sempre trouxera conflitos entre as duas, mas Melyssa cuidava da pequena como a uma verdadeira irmã mais nova, e nunca a condenou por não terem ligações diretas de sangue. Os jovens confiavam em Martha como a qualquer outro membro da família.
A Comandante guiou os jovens por entre os pilares, e no fim do corredor era possível ver um grupo de pessoas, membros dos Galactics atuavam na área ativando máquinas e fazendo reparos na estrutura do santuário o que destruía todo aquele ambiente místico e natural outrora existente. Um homem de cabelos azuis mantinha o controle da situação. Luke e Lukas estavam familiarizados com alguns membros e inclusive chegaram a cumprimentar dois deles que haviam roubado suas pokéagendas há muito tempo. Luke acenou para os soldados dos Galactics e disse:
— Ei, eu lembro de vocês dois. Cosmo e Star, ou algo assim. Vocês fazem parte do grupo de pesquisa da minha tia, não é?
Os dois viraram o rosto e pareceram esconder algo, como se não quisessem conversa. Não por maldade, mas a mesma expressão de apreensão era compartilhada com a Comandante Mars. Luke recuou um pouco ofendido, desejava ao menos que fosse bem recebido, mas todos naquela sala agiam de forma fria e até melancólica para com os visitantes. Mars foi em direção do homem de azul e apresentou seus sobrinhos para o superior. Ela fez um gesto honroso de devoção, ajoelhando-se antes de anunciar:
— São eles, senhor Cyrus. Luke e Lukas Wallers. — disse a mulher ao levantar-se, apoiando a mão sobre o ombro das crianças.
Cyrus virou-se e encarou aqueles jovens, lembrando-se perfeitamente de quando os vira na beira do lago da verdade. Luke e Lukas não teriam uma memória tão boa quanto a do velho homem, mas compartilhavam da mesma sensação de que já o viram em algum lugar. Martha voltou-se para seus sobrinhos e apresentou-os formalmente:
— Crianças, este é meu chefe. Senhor Cyrus, organizador, desenvolvedor e fundador de toda a corporação de pesquisas dos Galactics. Um fascinante e de ideais imagináveis. Nós buscamos criar um Novo Mundo.
Cyrus lançou apenas um rápido olhar para trás, mas não disse nada. Voltou-se para Martha e assentiu com a cabeça, ordenando com sua voz grossa:
— Prepare-os.
Martha acenou em despedida, e logo guiou seus sobrinhos para uma área mais afastada do santuário. O ambiente era sombrio e nefasto, a penumbra cobria a região e tudo parecia ter escurecido, não havia céu, os jovens pareciam estar acima dele. Eles mal se lembravam do sol desaparecer no horizonte. Por algum motivo o relógio de Lukas estava travado, e o ponteiro fazia o caminho reverso quando no voltava algumas horas para piorar ainda mais a apreensão do jovem. Logo a Comandante Jupiter se encontrava no caminho, observando-os de braços cruzados na medida que Mars caminhava de forma lenta e melancólica. Jupiter balançou a cabeça negativamente e olhou para a companheira de trabalho com enorme desdém.
— Você é uma mulher terrível, Martha.
Luke não gostou nada da ofensa.
— Ei, quem você pensa que é para chamar minha tia dessa maneira? — bradou enfurecido, vendo uma expressão de surpresa no rosto de Jupiter. A mulher de cabelos roxeados abaixou a cabeça e voltou a perguntar:
— Você não... Você não contou para eles?
Martha acenou negativamente, mas as palavras mal saiam de sua boca. Tudo aconteceu muito depressa, mas se dois soldados da corporação não a segurassem a Comandante Juptier teria acertado um soco no rosto da ruiva com tanta força que ela teria dificuldades em levantar-se. Luke e Lukas ainda podiam ouvi-la na medida que os soldados a levavam para longe para que ela se acalmasse.
— Martha, sua miserável!! Eles são seus sobrinhos, sua família!! Como pode fazer um coisa dessas?! Como você acha que o Saturn reagiria? Quer saber de uma coisa? Ele não merece uma mulher como você!!
— Cale-se, Jupiter! Vá embora, não piore a dor que estou sentindo, não torne minha situação ainda mais insuportável e meu sofrimento incontido! Já basta! — respondeu Mars.
Movido pela atenção que a discussão gerara, Cyrus aproximou-se do comitê com as mãos para trás. A presença dos jovens irmãos era quase que insignificante, e as dúvidas em suas mentes eram deveras confusas. Assim que Cyrus chegou a briga cessou, mas o homem ainda não hesitou em dar um toque para sua equipe:
— Comandante Jupiter, qualquer um que se opôr aos nossos planos à essa altura deve deixar a facção imediatamente. Não terei piedade daqueles que se oporem, e saiba que o que a Comandante Mars está fazendo aqui nenhum de vocês seria capaz. Então siga meus conselhos e cale-se, deixe-a cumprir seu trabalho com êxito, e o triunfo de nossa facção não tardará em chegar.
As duas se encararam brevemente e logo seguiram caminhos opostos. Luke já não gostara nada da amiga de sua tia, e perguntava-se se os companheiros de trabalho dela eram todos tão esquisitos. O jovem colocou as mãos no bolso enquanto caminhava tranquilamente rumo à sua desgraça.
— Tia Martha, o que aquele homem quis dizer com aquilo?
— Vocês verão. Vocês verão... — respondeu a moça com um suspiro, contendo as palavras que não puderam ser proferidas, resumindo-as a um mero pensamento: Só espero que me perdoem por tudo isso.

• • •

Em Canalave a situação beirava a perda do controle. Mais uma vez Marshall convocara sua frota de policiais atrás de uma moça ruiva e duas crianças, mas não havia sinal da Comandante Mars em lugar algum. As pessoas do porto afirmavam inclusive que sequer a viram sair, era impossível que ela tivesse deixado a cidade, há menos que tivesse partido pelo oceano, o que era improvável.
Walter estava quieto até demais, massageava a região dos olhos demonstrando claramente que algo o incomodava. Aquele gesto era temido por toda uma nação, significava que o velho homem estava perto de perder o controle. Glenn caminhava inquieto de um lado para o outro enquanto Melyssa tentava de todas as maneiras entrar em contato com sua irmã, mas sem sucesso. Após um tempo Dawn fez seu caminho até o hospital, e quando encontrou praticamente toda a ex-Elite completa não escondeu imensa surpresa. Walter dirigiu seu olhar a entrada e sorriu:
— A menina das batatas. — afirmou o velho campeão de forma simpática.
— S-Senhor Walter Wallers, Melyssa Wallers, Glenn Combs, Marshall!! O que está acontecendo aqui, qual o motivo desta reunião inesperada?
— Opa, é a mocinha que dava em cima do Luke. — afirmou Glenn de forma espontânea — Como vai, broto?
— Estou bem, senhor. Vieram ver o Luke e o Lukas também? Eles ficarão muito felizes com a visita de todos vocês! Inclusive demorei porque eu quis aprender a costurar nesse tempo, e fiz um par de cachecóis para eles. Mal posso esperar para vê-los.
Marshall respirou fundo, e após retirar o chapéu teve de dar mais uma dura notícia:
— Senhorita Manson, temos um pequeno problema... Eles desapareceram.
A bolsa que Dawn tinha em mãos quase veio a cair de seus braços num gesto surpreso. A moça ajeitou os cabelos e compartilhou da mesma expressão de euforia dos demais presentes.
— Sumiram... De novo...? — indagou ela decepcionada.
— Não se preocupe, creio que não seja nada grave dessa vez, visto que eles saíram com a tia deles. O problema é que já faz cerca de três horas e os jovens ainda não voltaram. Em momento algum conseguimos manter contato. Isso me preocupa, algo pior pode ter acontecido. — explicou Marshall.
— Tia? Está falando daquela moça de cabelos vermelhos que trabalha para os Galactics?
Melyssa ajeitou-se na cadeira do hospital e opinou:
— Sim, é a Martha. Você a conhece?
— Nós tivemos alguns incidentes e a encontramos duas vezes em nossa jornada. Perdoe-me pelo uso da palavra, mas ela é uma mulher... diferente, sempre está envolvida nos planos de sua facção, e da última vez que a encontramos eles tentavam apagar um incêndio em Eterna, causado por um dos membros dos Rockets.
A atenção de Marshall voltou-se para a menina, ele cruzou os braços como se procurasse saber mais e sentisse que aos poucos chegava a uma solução.
— Qual era a relação dos Rockets com os Galactics? — perguntou o rapper.
— Até onde sabemos, nenhuma. — prontificou-se Marshall — Por algum motivo os Rockets pareciam ter certa rivalidade com eles, mas em meu encontro com Archer não notei nenhum resquício de um plano maior que envolvesse os Galactics e muito menos a Lustruous Orb roubada de Hearthome. É uma pena, mas creio que ela tenha afundado no oceano junto da Ilha de Ferro, aquele artefato era muito precioso...
Um breve silêncio pairou no salão de entrada do hospital, e apenas o barulho das macas dos enfermos chegando podiam ser ouvidos. Marshall voltou-se para Dawn e continuou a indagação:
— Sabe me dizer quem foi o responsável pelo incêndio?
— Não me lembro do nome dele, mas... Sinto que já vi o duas vezes. Ele usava uma boina e tinha cabelos esverdeados...
— Executivo Proton. — afirmou Marshall com prontidão — Ele foi liberado da prisão no último fim de semana. Então quer dizer que esse homem estava envolvido com os Galactics?... Isso faria sentido caso ele tenha roubado a Lustruous Orb, mas até onde sei não há como este artefato ter caído em suas mãos.
— E o que isso afeta na história? — perguntou Glenn.
— Eu desconheço desse assunto, poucos são os especialistas em mitologia Pokémon em nossa região. — acrescentou o policial.
Dawn logo levantou-se de sua cadeira, demonstrando certa apreensão no assunto. No momento em que todos voltaram seus olhares para ela a garota ficou um pouco acanhada, mas alertou com convicção:
— E-Eu conheço uma moça! Bem, na verdade foi esses dias quando voltei para Sandgem no fim de semana, mas nos tornamos amigas desde então. Digamos que foi por puro acaso...

Flashback On

Dawn aguardava pacientemente que o Professor Rowan terminasse de enviar os Pokémons de seus companheiros. O velho guardava o último dentro de sua respectiva pokébola para finalmente enviá-lo de volta à moça que controlava a central de depósitos em toda a Sinnoh. Ao terminar de enviar o último Rowan sentou-se na e soltou um leve suspiro de gratificação, elogiou Dawn por seu desempenho na Ilha de Ferro e com um leve toque em seu ombro falou:
— Eu não poderia esperar menos de minha aprendiz. — disse Rowan — Fico feliz que tudo tenha terminado bem, e que os Irmãos Wallers estejam a salvo. Esses Pokémons têm muita força de vontade e determinação, eles tornam seus treinadores ainda mais surpreendentes!
— Esses dois são importantes para todos nós, professor. — disse a menina — Bem, mas estou exausta depois de tudo isso! Mal posso esperar para voltar à Canalave e revê-los depois de saírem do hospital, mas ainda não é hora de descansar, quero fazer um presente para meus amigos!
— Um presente? — perguntou o velho, acendendo seu cachimbo. Dawn acenou positivamente com a cabeça num gesto alegre.
— Sim, sim! Eles sempre me ajudaram e fizeram companhia, inclusive me lançaram nessa aventura maluca atrás de meus sonhos, e a cada dia sinto que estou mais próxima deles. Quero dizer, mais próxima de meus sonhos, não dos garotos... Ah, o senhor me entendeu.
— Diga-me, pequena, você acredita em destino? Ou acha que as pessoas simplesmente vivem sendo levadas pela brisa, sem rumo?
Dawn ficou pensativa, olhando para a janela e pensando tratar-se de mais uma das velhas metáforas do professor. Após muito refletir ela anunciou:
— Acho que é um pouco dos dois. Tudo que acontece tem um motivo, e à medida que vivemos sendo levados pelo vento, conhecemos lugares, culturas e pessoas novas!
O velho sorriu, afagando a cabeça da jovem menina.
— Você cresceu muito, minha querida. Quando você vivia aqui em Sandgem ainda tinha pensamentos leigos e infantis, e hoje já é uma adulta. Essa nova geração, sempre surpreendendo.
Dawn sorriu e agradeceu o velho por toda ajuda, mas jpa ficava tarde e logo ela precisaria voltar para casa. Foi em direção da porta, mas Rowan chamou-a antes.
— Minha jovem, sinto que eu tinha alto importante a lhe dizer.
— O que seria, professor?
— Não estou lembrando, mas era importante... Bem, de qualquer maneira, se eu esqueci é porque não tinha utilidade! Pode ir, pode ir. Aproveite seu descanso antes de retornar à viagem!
— Obrigada, professor. Estou voltando para casa, se precisar de algo basta me chamar!
O velho parou e ficou olhando para a porta.
— O que será que eu tinha que contar para ela mesmo? Ah, deixe para lá. Acho que estou ficando velho...
Dawn foi em direção de sua casa, pegou a chave que há tanto tempo deixara guardada em sua bolsa, e finalmente abriu a porta. Tudo estava arrumado, provavelmente o professor dera uma geral no imóvel no tempo em que ela esteve fora. Era uma sensação boa voltar aos tempos antigos; ver seus bichinhos de pelúcia, sua mobília, a cozinha mal usada, tudo no mesmo lugar de sempre. Exceto por algumas ligeiras mudanças.
A menina viu um quadro de sua família e deu um suave beijo na tela, em seguida foi direto para seu quarto. Ao abrir a porta jogou a mochila no chão e espreguiçou-se ao murmurar: Lar, doce lar. O silêncio prevalecia como sempre, ela imaginava que não havia ninguém por perto. Voltava a morar sozinha depois de tanto tempo, mas em seu íntimo sentira saudade daquilo. A primeira coisa que fez foi ir em direção do banheiro para tomar um bom banho sem se dar no direito de fechar a porta, deixou a água esquentar e ficou lá embaixo por várias horas. Ao sair enrolou-se na toalha e vestiu uma camisola, e mesmo que fosse cedo queria ficar de pijama a inteiro. Porém, assim que passou na cama viu que algo se mexia embaixo da coberta.
— Tem alguém aí? — perguntou assustada.
A menina imediatamente agarrou um taco de baseball que tinha na estante e ergueu insinuando uma possível investida. Pensou que fosse um Pokémon selvagem que invadira sua moradia, mas ao puxar o cobertor notou uma cabeleira loira deitada em seu travesseiro. Dawn deixou o taco cair e soltou um grito de surpresa ao encontrar-se em meio a seus murmúrios:
— T-Tem uma mulher dormindo na minha cama!!
A mulher virou-se lentamente demonstrando seu rosto sonolento. Ela era bela, lembrava a Bela Adormecida em meio àquela situação inusitada. Ainda estava vestida com roupas de sair como se simplesmente tivesse despencado na primeira cama que viu e adormecido como uma princesa. A loira foi abrindo seus olhos de forma lenta e vagarosa, encarando Dawn com sua feição de espanto.
— Quem é você? — perguntou  loira.
— Eu é quem pergunto, o que você está fazendo em minha casa?! — indagou Dawn frustrada.
A moça sentou-se na cama esfregando as mãos no rosto e tentando ajeitar seus cabelos bagunçados. Ela parecia ter acabado de despertar de um longo dia de trabalho, e ainda continuava cansada. Após espreguiçar-se ela falou:
— Eu sou a dona da casa.
— O quê? Sou eu quem morava aqui moça, morei aqui minha juventude inteira!! Desde quando os moradores de Sandgem saem por aí tomando posse da propriedade dos outros?
— O Professor Rowan recomendou que eu ficasse aqui, eu aluguei a casa por alguns dias, ele não a avisou? Sou uma viajante, desculpe-me se a incomodei. Não foi essa a minha intenção, eu vou embora.
— N-Não! — apreçou-se Dawn — Eu é que peço desculpas por recebê-la dessa maneira, é que sai em viagem há quase um ano, e fiquei um pouco surpresa quando voltei e encontrei uma mulher dormindo em minha casa. Não é sempre que esse tipo de coisa acontece, não?
— Só em cidade pequenas. — sorriu a loira, lançando uma piscadela para a garota — Posso saber seu nome?
— Dawn Manson. E o seu, moça?
— Eu sou Cynthia, a campeã de Sinnoh.
Dawn quase caiu para trás ao ouvir o título daquela mulher. Ela poderia ter a reconhecido pelas roupas, mas seu cabelo estava tão bagunçado que naquela situação ninguém teria sido capaz. Cynthia levantou-se e retirou algumas de suas roupas, vestindo chinelos e indo em direção do banheiro na medida que olhava para o relógio de forma descontraída.
— Acho que dormi demais, mas há tempos eu não tinha uma noite tão boa. — disse a moça, ligando a pia e enxaguando o rosto — Bem, vou ficar aqui por um tempinho, se não se incomodar. Estou dando um tempo da Liga Pokémon.
— A senhora está tirando férias da Elite? Como é possível o cargo mais poderoso e influente da região tirar férias?
— Eu não sou de ferro, mocinha. Esse tipo de coisa me deixa exausta, devo dizer que ser campeão é muito mais do que ganhar batalhas. Eu acho que não sou capaz de lidar com tamanha pressão, tem horas que tenho vontade de desistir de tudo e fugir. E foi o que eu fiz nesse fim de semana. Minha Elite deve ter iniciado uma busca inesgotável atrás de mim, adoro isso. — disse ela, não escondendo uma risada.
— É como ter uma celebridade em casa, eu nunca esperaria por isso! — disse Dawn, sentando-se em algumas almofadas que estavam jogadas no chão. Cynthia logo terminou sua higiene pessoal e foi sentar-se também, a campeã esticou as pernas e soltou um suspiro de alegria ao estender as pernas de forma confortante.
— Sim, eu também não esperava que fosse sentir tanta saudade de uma vida mansa assim.
Cynthia ajeitou seus longos cabelos loiros, e perguntou:
— Diga-me, quando seus pais chegam? Creio que agora que você está de volta não seria bom se eles encontrassem uma estranha em seu quarto. É melhor eu começar a procurar outro lugar para ficar.
— Bem, meus pais não estão mais presentes... em vida. — respondeu Dawn, tentando fugir do assunto. Cynthia logo captara a mensagem, endireitando a coluna.
— Meus pêsames... Eu sei como se sente. Já passei por uma situação semelhante.
— Não tem problema, isso já foi há muito tempo... Não devemos viver ligados ao passado lamentando por essas coisas, não?
          Cynthia sorriu ao confirmar. 
As duas inclusive chegaram a conversar por um longo tempo, a tarde toda passou num piscar de olhos. Elas pareciam amigas da época de colegial, compartilhando um apartamento juntos. Cynthia divertia-se com o fato de Dawn morar sozinha por tanto tempo e nem saber cozinhar direito, enquanto Dawn trazia de volta para a campeã a sensação de ser mulher, uma vida além de viver atrás de um escritório assinando papéis, cumprindo obrigações e normas. A loira ajeitou um avental em seu corpo escultural e logo sacou uma panela enquanto preparava um belo banquete que a menina há muito não tinha. A noite caiu na medida que as duas iam conhecendo mais uma a outra, e no fim, Dawn desejou que aquela semana fosse estendida por muito mais tempo.
— Da próxima vez que for encontrar esses garotos, saberá preparar um verdadeiro banquete. E trate de ficar bem longe das batatas, se você preparar isso para o sogrão as coisas ruins à seu respeito serão as primeiras que ele irá lembrar-se.
— A-Aquilo foi um acidente! E ele nunca vai esquecer as batatas, aposto... E ele ainda não é meu sogro...!
— Ainda? — perguntou Cynthia com uma risada.
— Ah, esse garoto de que tanto falo é muito cabeça dura. O Luke não toma decisões para nada! Ele já está me enrolando há quase um ano, um ano!
— Olhe Dawn, tem coisas que nem sempre nós precisamos esperar. Não há problemas em uma mulher tomar atitude, na próxima vez que em encontrá-lo o que acha de você também tentar? Digo que não há homem nesse mundo que resista à tentação de uma bela mulher, e de quebra leve aquele presente que você fez para ele.
— O cachecol?
— Isso mesmo! — assentiu a loira — Veja só, você está aprendendo a cozinhar, limpar, costurar. Que tipo de rapaz não gostaria disso? Os homens adoram.
Dawn sorriu olhando para tudo ao seu redor, e não se conteve em dar um forte abraço que Cynthia não esperara. Era um abraço que a morena não pudera dar em ninguém desde que sua mãe falecera, e agora sentia que ela estava de volta, ou que um anjo fora enviado para tomar conta de sua pequena menina. Cynthia acariciou os longos cabelos de Dawn ao ouvi-la falar:
— Obrigada por me tornar mais mulher, Cynthia.
— Eu é quem agradeço, Dawn, por me fazer voltar a ser menina....

Flashback Off

Walter ouvira a história atentamente, e não se surpreendeu ao ouvir o trecho em que Dawn disse que a atual campeã precisava de um tempo longe da Liga Pokémon. O velho coçou a barba e perguntou para a moça assim que ela terminou sua história:
— E onde podemos encontrar a senhorita Cynthia a essa altura, Dawn?
— Vocês tiveram sorte, foi ela quem me trouxe para Canalave. Ela pediu sigilo, mas creio que esta seja uma situação importante! Provavelmente ela não queira que a Liga saiba de sua fuga inusitada... Ainda a encontraremos no porto, ela não deve ter saído da cidade. Cynthia é a maior especialista em Mitologia Pokémon que já conheci.
Imediatamente Marshall fez um rápido aceno pedindo que Dawn o seguisse. Não era bom que Walter e os outros saíssem, eles chamariam tanta atenção que encontrar uma agulha no palheiro seria uma missão ainda mais complicada. Porém, não demorou muito para que os dois fizessem seu caminho até o porto e a própria Cynthia os encontrasse. Marshall podia ser facilmente reconhecido por aqueles que ainda admiravam a glória do passado, e dentre as ruas estreitas e prédios altos um vulto segurou no ombro de Dawn que virou-se num susto. Escondida em vestes diferentes e um cabelo totalmente novo a loira segurou no braço da jovem e perguntou de forma discreta ao retirar seu capuz:
— Conseguiu entregar o cachecol para seu amado?
Dawn sorriu ao encontrar Cynthia, e imediatamente avisou Marshall. O policial cumprimentou-a de forma breve, pois sempre tivera muito contato com a campeã pelo envolvimento da polícia e do governo. Ele guiou a mulher até o hospital, pois eles não poderiam deixar Walter apreensivo naquela situação. Ao chegarem no salão de entrada imediatamente adentraram uma sala de paredes bem pintadas e que evitavam a propagação do som para terem mais privacidade. Walter levantou-se para cumprimentar Cynthia que retribuiu num gesto de respeito e ansiedade.
— Senhor Walter Wallers, é uma honra conhecer um dos campeões mais mirabolantes e surpreendentes dos tempos antigos, o homem que trouxe os anos de ouro para esta região! É um imenso prazer conhecê-lo. — cumprimentou Cynthia num ato de reverência.
— E você é a moça que ocupa o cargo atualmente. — confirmou ele — Já a vi atuando em batalha, e devo dizer que suas técnicas são fascinantes.
— ...Mas ainda assim eu não poderia fazer frente ao senhor em seus tempos áureos, até nos dias atuais creio que eu não teria chances de derrotar sua equipe. Se o senhor desejasse, facilmente ocuparia o posto novamente.
— É preciso deixar o tempo e o destino seguirem com seu rumo. Eu estava fadado a ceder meu cargo um dia, tal como você está fadada a ocupá-lo nos das atuais. É a sua geração que deve governar, e você o faz por merecer tal mérito, mas não deixe as obrigações tomarem conta de sua mente e disposição. Certas coisas precisam acontecer para que outras melhores possam vir. — respondeu Walter com palavras sábias e experientes.
Marshall ficou encostado na porta enquanto Glenn permanecia debruçado sobre uma poltrona. Cynthia estava disposta a ajudar no que pudesse, pois era perita em Mitologia Pokémon, e uma das mentes mais grandiosas da atualidade. Walter ajeitou o paletó enquanto apoiava suas mãos para trás e a moça se assentava numa mesa, como num interrogatório formal.
— Diga-me, minha jovem, o que sabe sobre a Adamant e a Lustruous Orb?
— Em conjunto estes artefatos são os únicos capazes de invocar os guardiões sagrados, mas tais rituais só podem ser iniciados com os guardiões do lago. — explicou a loira.
— Dizem que eles desapareceram. — comentou Melyssa — É possível que tenham sido capturados?
— A captura de um lendário? Qual é, isso é impossível, há anos um lendário não é domado por um humano, isso pode ter acontecido em outras regiões, mas nunca em Sinnoh! — argumentou Glenn.
Cynthia abaixou a fronte e logo buscou um livro que sempre levava em sua bolsa. A moça abriu-o e folheou as páginas por alguns minutos, logo indicando que encontrara algo de interesse.
— Palkia é o guardião do espaço; e Dialga, do tempo. Eles são os lendários mitológicos em nossa região, o dragão metálico têm o poder de controlar e distorcer o tempo, tal como Palkia é o sopro do espaço estável. As lendas contam que o tempo começou a correr assim que Dialga nasceu. Ambos os lendários foram criados por Arceus. Eles batalharam por toda uma eternidade em uma outra dimensão.
Conforme Marshall atentava-se à todo aquele aprendizado e chegou a uma possível conclusão:
— Se por ventura os Galactics conquistassem as duas orbes eles seriam capazes de formular um novo mundo criando um colapso entre o tempo e o espaço?
Cynthia soltou um longo suspiro, e por fim confirmou:
— Se eles tivessem controle sobre os três lendários do lago, sim, eles seriam capaz de criar algo muito pior. Dizem que uma sombra habita um mundo inverso ao nosso, o Distortion World, e tendo o poder de abrir este portal eles poderiam causar o fim do mundo, criando um novo. 
— Criar um novo mundo? — indagou Melyssa, um pouco surpresa — Minha irmã sempre teve esse sonho, sempre teve o desejo de construir um mundo melhor. Ela sofreu muito quando mais nova, e  mesmo que nossos pais dessem todo o carinho possível ela ainda nunca deixou de lado esses pensamentos. Por mais que hoje seja adulta ela nunca perdeu a essência e os sonhos de uma criança, e isso me preocupa.
Glenn comentou:
— E o que há de ruim em tentar criar um novo mundo?
— Não digo que a criação de um novo mundo seja condenável, e sim, os ideais que os Galactics abordam. Eles passam por cima de todos aqueles que se oporem, são egoístas e não se importam com a opinião dos outros. Eles querem um novo mundo para ser governado, para se tornarem os deuses dessa Era e iniciar uma verdadeira babilônia numa luta por poder. — explicou Cynthia, voltando-se para a mãe dos jovens — Perdoe-me, senhorita Melyssa, mas esse mundo perfeito que sua irmã sonhou nunca vai existir. No fim de tudo ela será apenas mais uma peça na construção dessa torre de babel que um dia encontrará seu fim, e jamais será terminada.
Dawn ouvia tudo com atenção enquanto permanecia sentada numa poltrona ali perto. A garota poderia considerar-se prestigiada em participar de uma reunião daquelas, mas não deixou escapar um comentário de grande importância.
— Bem, nós podemos impedir facilmente os Galactics de qualquer plano fajuto. Temos os melhores conosco, não será nada difícil... — comentou Dawn não escondendo certo egocentrismo — Mas o que o Luke e o Lukas têm haver com essa história?
Cynthia abaixou a cabeça, pensando sobre aquilo e folheando o livro como se lembrasse perfeitamente de algum trecho que mencionara algo parecido. Após ler, a moça soltou um suspiro de temor, explicando a seguinte questão para Walter e os outros:
— Este ritual requer muito mais do que apenas juntar Pokémons lendários e artefatos sagrados. O clima controverso e o tempo em atividade podem ser indícios de um possível colapso. Como é de conhecimento de todos, os Galactics sempre mantiveram a Adamant Orb sob posse para pesquisas. Nos últimos meses o trio lendário do lago simplesmente desapareceu sem explicações, então se eles tiverem a Lustruous Orb em mãos precisarão apenas de uma chave para abrir o portal para o Distortion World.
Walter levou a mão até o rosto em sinal de desapontamento como se já tivesse sacado a resposta para tudo aquilo.
— E qual seria o método de abrir os portais? — perguntou o ex-campeão.
— O único método conhecido é encontrar a oferenda certa para o ritual, e apenas assim o portal será aberto. Os manuscritos antigos dizem que as sombras consomem a alma, espírito, e o sangue; necessitando de uma quantia imensa para satisfazer-se. No passado muitos povos antigos tentaram, mas falhavam porque suas oferendas não tinham uma quantia grande o suficiente de sangue para ser consumido. Ninguém tem e nunca terá tamanho estoque, pelo menos não sozinho. É impossível existir um único ser humano com tamanha força vital.
Walter ponderou sobre aquilo enquanto tomava um gole d'água e olhava em direção do topo do Mt. Coronet que encontrava-se cercado de nuvens negras e trovões. Algo parecia estar para acontecer naquela região. Ele era um homem inteligente, e apesar de todas as dúvidas e medos em sua mente pôde chegar a uma conclusão apressada e decisiva.
— Gêmeos idênticos compartilham do mesmo gene, do mesmo sangue. — explicou Walter de forma breve e enigmática, voltando-se para seus velhos amigos e ajeitando o paletó — Meus senhores, preparem-se para um resgate. Vou  adiar um pouco esse fim do mundo.

Enquanto a máscara do engano cai do rosto da humanidade, revelando a dura realidade da dualidade, cada um é vítima, ninguém será isento. Embora muitos, somos um, portanto, em última análise... Será que estamos lutando uma guerra que não pode ser vencida?

      

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