Posted by : CanasOminous Jan 23, 2014

Support Conversation (Conde x Glory)
Gênero e Disclaimers: Romance, Drama;
Tema: Por que o ser humano se preocupa com coisas tão superficiais?;
Notas: Este Support se conecta diretamente com a História Central,
sendo a continuação do Capítulo 91.5, ocorrido após a batalha em dupla 
da Red Fortress e Pink Anarchy na Liga Pokémon.

Glory continuava com o olhar perdido no tempo. Sentada em um canto escuro e completamente esquecido, não tinha disposição e nem força de vontade para tentar mais nada. Alguns faxineiros já limpavam a sujeira deixada pelo público, mas ela continuava ali, com a cabeça encostada na parede e sua respiração contínua inalterada.
Conde foi se aproximando da mulher, caminhando com mãos para trás e o queixo erguido da maneira autônoma como sempre fazia. Glory nem olhou para trás ao vê-lo chegar, e por alguns segundos eles se mantiveram presos ao silêncio.
 Este lugar é bom, quando não há humanos e nem Pokémons correndo para todos os lados, fazendo barulho e gritando feito loucos. E especialmente quando não estão lutando entre eles por algo maior — disse o Empoleon. — O silêncio me conforta.
— Perdi... — disse Glory com um suspiro, presa no horizonte e com uma clara expressão de desamparo. — Eu perdi, Conde. Nas semifinais. Eu perdi.
O homem balançou a cabeça, como se soubesse que uma hora ou outra aconteceria, e cedo ou tarde eles teriam de lidar com aquilo.
Glory não havia percebido, mas involuntariamente algumas lágrimas começaram a rolar de seu rosto e ela tentou impedir o choro na frente do imperador. Ela retirou suas luvas emborrachadas e conteve o som. Desamparado, Conde pensava em como reconforta-la.
— É impossível habituar-se ao fato de perder, seja vilão ou bonzinho, importante ou desfalecido. Ninguém quer perder — explicou-lhe o homem, dando-lhe um sorriso. — Pense que mim, eliminado nas oitavas! Isto fita o meu ego inflado?
Glory deu uma risadinha ligeira, os olhos ainda avermelhados.
— Eu lutei tanto para chegar até aqui, tanto...
— Todos nós lutamos, minha querida, mas acredite que certos sonhos não são realizados todos os dias.
O homem ajeitou sua capa para trás e sentou-se ao lado da mulher, onde os dois permaneceram sozinhos encarando o vazio que fora deixado no ginásio, e que agora era preparado para as finais do dia seguinte. Finais aquela que nenhum dos dois estariam presentes.
— Sabe, quando eu era menino meu pai costumava fazer competições de cartas — comentou Conde. — Ah, e posso garantir que até hoje levo jeito para esse ramo! Blefar, mentir, enganar e aproveitar-se dos outros. Eu tinha tudo para me dar bem nesses jogos.
Glory olhou para ele, interessada na história que o homem estava disposto a contar.
— Certo dia, houve um campeonato em casa, somente entre os próprios amigos. Nossa, eu era apenas um Piplup naquela época... Eu joguei e me destaquei perante qualquer um, cheguei até as finais e surpreendi à todos.
Conde soltou um suspiro pesado.
— E naquelas mesmas finais. Eu perdi. Fui derrotado. Todas as minhas esperanças de colocar a mão naquele lindo troféu foram destruídas enquanto as pessoas davam tapinhas nas minhas costas e diziam: Você pode tentar de novo.
Ele riu sozinho de sua própria história.
— Mas eu não queria tentar de novo. Eu precisava daquele troféu, queria colocar minhas mãos nele, sentir a sua textura, ouvir a sua glória enquanto todos batiam palmas para mim e me consideravam o melhor de todos.
Glory abaixou a cabeça conforme a história foi tomando seu rumo final, e o Empoleon continuou:
— Demorou muito tempo até que compreendesse por que eu perdi — ele explicou. — Eu não conseguia entender, depois de ter lutado tanto para chegar até aquelas finais, como eu poderia ficar só com o desprezível e repugnante segundo lugar? Existe algo pior do que isso? O segundo colocado nunca recebe a glória do primeiro, nem se sente um vencedor por ter conseguido ao menos chegar ao pódio em terceiro. Ele é o eterno segundo, a sombra do primeiro. O renegado.
Conde apertou seu próprio punho, como se quisesse apunhalar aquelas lembranças.
— Se eu era tão merecedor, por que não ganhei aquele troféu? Nunca percebi que, assim como eu, meus amigos também tinham batalhado para chegar até lá. E no fim das contas eles ganharam, porque foram melhores do que eu teria sido capaz.
Conde ajeitou sua capa para proteger-se melhor do frio que fazia.
— Hoje eu olho para aquele velho troféu na estante dos outros e penso: Quanta infantilidade de minha parte... Quantas noites eu chorei e esperneei por... um Troféu de Plástico, daqueles que você pode comprar em qualquer loja de esquina.
Os dois trocaram olhares no silêncio.
— Por que buscamos coisas tão... superficiais?
— O que torna um troféu prestigioso é o fato de lutarmos para tê-lo — comentou Glory.
— Exatamente. Somente hoje eu percebo que, no fim das contas, eu não precisava dele. Nunca precisei.
Glory enxugou suas lágrimas e tentou forçar um sorriso.
— Bem, mas o troféu do torneio era de ouro — ela caiu na risada.
Conde levantou-se e ergueu a mão para ela.
— Ora essa, minha nobre donzela, mas nós não precisamos de ouro.
Conde retirou uma caixinha cor de vinho de seu bolso, e ali dentro estava um colar singelo em forma de asinhas feito de ouro, que foi gentilmente depositado nos ombros de Glory que corou pelo gesto inesperado.
—Estou acostumada a ser tratada como a mulher vulgar e desprezível, mas... Pelo visto tem homens que gostam — disse Glory. — Obrigada, Conde. Nenhum homem nunca fez isso por mim.
— Eu não sou qualquer um — ele ajeitou sua capa. — Sou um vilão terrível.
A mulher ajeitou seu cabelo e retocou a maquiagem manchada.
— Ainda precisa de uma rainha para seu reinado de terror?
— A vaga continua aberta, se estiver disposta.
Conde voltou a segurar em uma das mãos da mulher que estavam libertas das luvas de plástico. Pela mesma saída que entraram, eles partiram juntos, para algum dia voltarem a tentar de novo, merecedores da primeira posição e prevalecendo diante todos os demais. Ninguém nunca se acostumará ao fato de ficar em segundo lugar, pois este posto representava que eles eram os primeiros perdedores.
E ainda assim, merecedores de terem chegado até ali, com Honra e Glória.

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